quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Wittgeinstein

Ao entrarmos em contato com as “investigações filosóficas” nos deparamos com um Wittgenstein que parece questionar seus próprios caminhos, e ao mesmo tempo, ao fazer a crítica à linguagem, coloca em questão o uso feito pelos filósofos que na sua concepção abusam de conceitos na tentativa de organizar a linguagem.    ´
Sua crítica a uma filosofia da linguagem ideal ficará evidente quando Wittgenstein (1999) nos fala sobre a ineficiência da lógica diante da linguagem cotidiana (entre os parágrafos 89 e 102) e que na verdade o papel da filosofia não é, de forma alguma, responder as questões, mas sim apresentar o que acontece nos processos de comunicação no caso da filosofia da linguagem. A análise puramente lógica das proposições, segundo Wittgenstein, não é suficiente para “clarificar” ou “desenfeitiçar-nos”, pois não apresenta uma visão panorâmica do uso de palavras e frases.  Quando Wittgenstein diz que não há uma filosofia de segunda ordem para falar da “filosofia” nos parece certo afirmar que a criação de conceitos estabelece imediatamente uma restrição, ou seja, criam-se limites de entendimento aos quais só estarão inseridos aqueles que participam, ou seja, que dominam os significados desses conceitos. A partir dai se desenvolverá uma crítica à construção de todo pensamento metafísico, que segundo o filósofo pode ser considerado um castelo de areia, uma vez que sua construção é arbitraria. “Estamos aprisionados em nossas próprias regras” diz Wittgenstein continuando seu questionamento ao que ele considera um abuso. Outra passagem que ilustra bem a questão do “enfeitiçamento pelas vias de nossa linguagem” é a imagem dos “óculos através dos quais enxergamos” a realidade. Wittgenstein dirá que nós “nem pensamos em tirar os óculos”, ou seja, não procuramos olhar por nossos próprios olhos, estamos a todo tempo orientados por outras lentes. Observamos o mundo por meio de outros olhos. Uma metáfora que diz muito a respeito de como a construção linguística norteia nosso pensamento. 
            Para ilustrarmos a explicação lançamos mão aqui do exemplo que ocorre no filme 1984, baseado no livro de George Orwell. Duas situações podem nos aproximar dessa ideia de enfeitiçamento a que Wittgenstein nos fala.  A primeira acontece quando o sistema de propaganda do Big Brother diariamente apaga as notícias publicando apenas aquilo que interessa ao governo, criando assim uma ilusão de paz. A segunda situação aparece na criação da “novilingua” pelos projetistas com o intuito de eliminar quaisquer possibilidades de insurgimento contra o governo. Essa criação ilustra muito bem a afirmação de Wittgenstein de que “estamos presos a nossas próprias regras”.  Nessa perspectiva crítica em que se apresenta o pensamento de Wittgenstein, poderíamos afirmar que sua investigação quer quebrar aquilo que já foi cristalizado e é tido como “verdade absoluta”.
Como seria possível a verdade de uma palavra ou frase se seu uso pode mudar a cada contexto? Observamos, seguindo o pensamento de Wittgenstein, que a palavra, o signo não guardam em si um valor de verdade, mas o faz surgir na medida em que está inserido em um “jogo de linguagem”. E mesmo assim, dentro deste jogo de linguagem podem existir nuances.

 A ideia de produzir uma linguagem ideal que nos dê acesso a uma essência primordial é eliminada por Wittgenstein que diz que não há nada oculto a ser descoberto, tudo está a nossa amostra, mas como está tão evidente não conseguimos perceber. A linguagem ordinária não necessita de consertos, ela possui tudo o que é necessário para nos relacionarmos com o mundo e entendê-lo nos dirá Wittgenstein. Por isso é necessário que o filósofo traga o conceito ao seu uso ordinário promovendo, assim um “desenfeitiçamento”.


WITTGEISNTEIN. Ludwig. Investigações filosóficas. São Paulo. Ed. Abril 1999. 
RAMOS, Celso. Análise da imagem como linguagem. Uma introdução à filosofia por meio da estética. Dissertação de mestrado em  Filosofia (pag. 29 a 31), CEFET/RJ,2016.