Não posso apenas
falar bonito sobre as razões ontológicas, epistemológicas e políticas da
teoria. O meu discurso sobre a teoria deve ser o exemplo concreto, prático, da
teoria. Sua encarnação. Ao falar da construção do conhecimento,
criticando a sua extensão, já devo estar envolvido nela, e nela, a
construção, estar envolvendo os alunos. (FREIRE,
1996, 47/48)
A
antes simbólica relação entre o ensino formal com a presença física do
professor em sala de aula , e o ensino remoto quando este já se constrói
virtualmente hoje, configura-se como uma relação de produção real educativa a
partir de um contexto pós -moderno o hiper-real conforme conceito de 1999, dado
por Baudrillard , ao contemporâneo saturado pela superposição de tragédia e
valores relativizados, diante do desafio
imposto pelo novo corona vírus (COVID-19)
O virtual coincide
coma noção de hiper-realidade. A realidade virtual, a que seria perfeitamente
homogeneizada, colocada em números, “operacionalizada”, substituía outra porque
ela é perfeita, controlável e não contraditória. Por conseguinte, como ela é
mais real do que o que construímos como simulacro (BAUDRILLARD, 2002,
pág.41-42)
Na
atualidade o educador, inevitavelmente, se encontra obrigado a trabalhar com o
ensino remoto cuja tendência é o estudo híbrido mesclando o fazer presencial ao
fazer a distância. Tal relação afeta o
exercício docente, bem como o desempenho discente e promove, debates e
questionamentos necessários por parte de especialistas em Educação.
O
ensino EAD que se diferencia em vários aspectos do ensino REMOTO, não é,
exatamente, uma novidade e já tem sido utilizado em cursos de pós-graduação e,
mesmo, em alguns casos, na graduação. O ensino REMOTO , que neste momento, tem
sido utilizado nos lança o desafio, neste momento, que parece ser, então, o como encontrar as melhores maneiras
de uso das ferramentas disponíveis para que se mitigue, por hora, os prejuízos
causados pela necessidade do isolamento social em virtude da gravidade
apresentada pelo novo vírus COVID-19.
O
presente trabalho tem como objetivo apresentar os caminhos percorridos por
profissionais da Educação, que se veem diante da necessidade de lançar mão de
ferramentas tecnológicas. Aqui tratamos, especialmente, no Ensino Médio nas
disciplinas de Arte e Filosofia ministradas em unidades públicas, a saber,
Colégio Estadual Brigadeiro Castrioto e Colégio Estadual Matemático Joaquim
Gomes de Sousa intercultural Brasil China. Os dois localizados no município de
Niterói. Desde o dia 14 de março deste
ano as aulas, presenciais, estão suspensas oficialmente pela Secretaria de
Educação do Estado do Rio de Janeiro atendendo as recomendações de órgãos de
controle sanitário. Em Abril a Secretaria colocou em funcionamento o sistema Google
Classroom de sala de aula virtual para atender, emergencialmente, aos alunos da
rede.
A
plataforma “Google Classroom”, na verdade, é um lugar onde é possível armazenar
conteúdos para que os alunos tenham acesso as tarefas e materiais. Esse é um dos dispositivos disponíveis para um
atendimento remoto inicial. De forma Assíncrona, ou seja, professor e
aluno não precisam necessariamente estar presente no mesmo horário.
A
plataforma “Google Classroom” possui uma forma simples de navegação permitindo
ao aluno o acesso aos matérias (Textos, vídeos.) disponibilizados pelos
professores. A plataforma que origina esse processo do ensino a distância (EAD)
é aquela conhecida como MOODLE que também permite o armazenamento de conteúdos
e possui o dispositivo do FÓRUM que promove uma interação entre os
participantes de forma textual em tempo real ou não (Assíncrona ou Síncrona).
Esse dispositivo inicial como espaço de troca exige do aluno participante um
domínio da palavra escrita, já que não possibilidade de contato direto com o
professor, ou seja, em um olhar um pouco mais crítico esse seria já um primeiro
obstáculo para aqueles alunos que não possuem o hábito da leitura-escrita.
Motivo pelo qual, acreditamos, ser a aceitação desta modalidade, a nos
referimos ao Google Classroom, com pouca participação do aluno.
Pensando
sobre essa modalidade, se possuíssemos apenas essa opção não acreditamos que
ela teria eficácia no Ensino Médio, diante da já tão pequena participação, por
diversos motivos, dos alunos no dispositivo “Google Classroom”.
1. A
profundando a questão
Aqui
não se trata o Ensino remoto sem considerar as suas inúmeras dificuldades, não
só de acesso, mas também as dificuldades já existentes no meio Educacional. Diante da adoção do ensino remoto se observa,
senão um aprofundamento das desigualdades, a constatação de que muitos não
possuem acesso à rede. É preciso lembrar que as desigualdades sociais bem como
a “exclusão digital” não foram produzidas pelo evento COVID-19, mas fazem parte
de nossa realidade já marcada por diferenças gritantes. Nesse percurso de utilização dos dispositivos
ou ferramentas disponíveis para o ensino remoto, também esbarramos com
problemas antigos que a Educação, agora nomeada como presencial, luta para
superar. Não há como tratar da Educação remota
sem falarmos da Educação que acontece presencialmente, pois é muito explicito
que as questões, incertezas e desafios
apresentados pelo ensino remoto , em
parte, encontram resistência também porque hábitos e comportamentos que
ainda nos parecem deficitários no Ensino
presencial comprometem o desempenho do aluno nesse novo meio virtual, assim como
as ações envolvendo políticas públicas relacionadas a Educação pois como
reflete Demerval Saviani em Escola e Democracia
Se a Educação se
revelou incapaz de redimir a humanidade através da ação pedagógica, não se
trata de reconhecer seus limites, mas alargá-las ; atribui-se a Educação um
conjunto de papeis que no limite abarcam as diferentes modalidades de política
social. A consciência e a pulverização de esforços e de recursos com resultados
praticamente nulos do ponto de vista, propriamente, Educacional. (SAVIANI,
2009, pág.30-31)
O
que Saviani apresenta revela dificuldades anteriores e inerentes ao sistema
Educacional como um todo, problemas que não foram superados, mas que os
profissionais da Educação precisam enfrentar no seu dia-a-dia.
A necessidade de aprender a utilizar
as ferramentas para atuar em um ambiente online se soma as mazelas que o
sistema educacional já possui e que autores como Paulo Freire, Demerval Saviani
e Moacyr Gadotti, refletem e problematizam. O educador, professor que vivencia
todos esses conflitos é convocado a refletir não só sobre os possíveis
benefícios do ensino remoto mas também como essas ferramentas podem ser favoráveis aos que não tem acesso à
Educação formal, aos que a cada dia possuem menores possibilidades de experimentarem
uma mobilidade social, justamente, pela
dificuldade em levarem a cabo sua formação acadêmica. Enfim pensar sobre as
consequências da adoção intempestiva desse meio. Portanto o tema em questão,
Ensino Remoto, apresenta uma complexidade impar e exige a responsabilidade ao
refletirmos sobre ele pois,
Como a Educação se
destina (senão de fato, pelo menos de direito) a promoção do homem, percebe-se
já a condição básica para alguém ser Educador: ser um profundo conhecedor do
homem. (SAVIANI,1986, pág.39).
Nesse
sentido nos coloca-se nesse trabalho
objetivo secundário, já descrito, de também encontrar o lugar do nosso aluno
nesse novo cenário que, como também já afirmamos, incorpora, de forma
intempestiva, uma modalidade de educação nas
vidas dos profissionais da Educação sem que possam fazer a escolha de
aceitar ou não
Muitas vezes,
enquanto discutimos sobre possíveis usos de uma dada tecnologia, algumas formas
de usar já se impuseram. Antes de nossa
conscientização a dinâmica coletiva escavou seus atratores. Quando finalmente
prestamos atenção, é demasiado tarde. Enquanto ainda questionamos, outras
tecnologias emergem na fronteira nebulosa onde são inventadas as ideais as
coisas e as práticas. (LEVY, 1997, pág.24)
Pierre
Levy no livro cibercultura dá ensejo a que se problematize a questão do uso de tecnologias
na sociedade de um modo geral e aqui especificamente na área da Educação. A
citação descreve exatamente a situação em que nos encontramos, a saber, desde
que foi inicialmente inserido em nosso meio o ensino a distância tem sido
motivo de debates em seus aspectos positivos e negativos ao mesmo tempo em que
questões básicas do ensino presencial não encontram soluções e nem formas
eficazes de atender com qualidade e igualdade aqueles que mais necessitam.
O dilema no qual nos encontramos
hoje, verdadeiramente, não é se os recursos sejam acessíveis a todos pois a
exclusão digital também é uma preocupação, mas como fazer com que esses
recursos sejam bem utilizados sem passar por uma idealização. Pelo menos esse parece ser a maior dificuldade
imposta por uma desigualdade social que antecede ao fenômeno da pandemia. Nesse trabalho não nos furtaremos a trazer
essa questão para discussão na medida em que descreveremos nossa própria
experiência nesse tempo de incertezas e emergências e
Aquilo que
identificamos, de forma grosseira como “novas tecnologias” recobre na verdade a
atividade multiforme de grupos humanos, um devir coletivo complexo que se
cristaliza sobretudo em volta de objetos materiais, de programas de computador
e de dispositivos de comunicação. É o processo social em toda sua opacidade, é
a atividade dos outros, que retorna para o individuo sob a máscara estrangeira,
inumana da técnica. (LEVY, 1997, pág. 30).
O
trabalho se situa, então, não no enaltecimento cego do ensino remoto mas na
tentativa de compreender os impactos efetivos destas ferramentas em um processo
já tão dificultoso da Educação pública no Ensino Médio envolvendo jovens que
apesar de estarem conectados a seus celulares diariamente encontram, hoje,
dificuldade de interagir em meetings (Síncrona) ou mesmo responder a
tarefas que são postadas em plataformas tal qual a já mencionada “Google
Classroom”(Assíncrona). No livro
cibercultura Pierre Levi vislumbra as possibilidades de uma inteligência
coletiva que a partir dos encontros na rede podem compartilhar informações,
debater assuntos, encontro de pesquisadores e estudantes de todo o mundo e que compartilhem
suas ideias. No entanto Levi nos lembra da característica que a tecnologia
também guarda de seu potencial maléfico ou como ele mesmo nos diz
A inteligência
coletiva proposta pela cibercultura constitui um dos melhores remédios para o
ritmo desestabilidade, por vezes excludente, da mutação técnica. Mas neste
mesmo movimento, a inteligência coletiva trabalha ativamente para aceleração
dessa mutação. Em grego arcaico a palavra “pharmakon” significa ao mesmo tempo
veneno e remédio. Novo “pharmakon” a inteligência coletiva que fornece a
cibercultura é ao mesmo tempo um veneno para aqueles que dela não participam e
um remédio para aqueles que mergulhem em seus turbilhões. ( LEVY,1997, 32-33)
Diante
da compreensão de que as ferramentas utilizadas para o ensino remoto não
garantem um efetivo aprendizado como gostaríamos, precisamos investigar como se
dá a interação nesse novo meio. Ao falar
sobre a experiência do ensino remoto com alunos do Ensino Médio é necessário,
também, vislumbrar a importância de uma efetiva participação do aluno para que
se dê esse tão desejado aprendizado que, na verdade, como já apontamos
anteriormente também é objetivo da Educação presencial. Será importante notar
que, por exemplo, aulas em meetings que possibilitam o encontro em tempo real (Síncrono)
entre professor e alunos exigirá, como veremos, uma atenção diferenciada de
todos os participantes, além de um preparo maior por parte do professor que
precisará conhecer o funcionamento da ferramenta (meeting). Por isso reunimos aqui Paulo Freire, Demerval
Saviani, Moacyr Gadotti que pensam a Educação presencial e Jean Baudrillard e Pierre
Levi que auxiliam a pensar a questão da
cibercultura.
2.
Processo de Ensino remoto: Uma experiência empírica.
No
mês de Abril a Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro
disponibilizou a plataforma “Google Classroom” para que seus alunos não
tivessem prejuízo diante da obrigatoriedade do isolamento social imposto pela
chegada no Brasil do corona vírus ou COVID-19. Entorno de discussões contrarias
e favoráveis essa foi a solução emergencial encontrada pela secretaria para
mitigar a falta das aulas presenciais.
A plataforma apresenta simplicidade
na navegação pois trata-se de sítio onde podem ser armazenados livros, textos,
imagens e vídeos. A plataforma também
possui espaço para comentários dos alunos e de professores. O professor, ao
combinar com seus alunos, pode trocar mensagens (chat) em tempo real, mas a
interação se dá apenas por forma textual.
Esse recurso, além de aulas transmitas pela TV Bandeirantes e pelo canal
da ALERJ, são as opções oferecidas aos alunos pela secretaria e a maior crítica
por parte de sindicatos diz respeito ao acesso a plataforma que, infelizmente,
não é permitido a todos. Como muitos alunos relatam, não possuem dados
suficientes para acessar a plataforma, alguns outros alunos alegam não
possuírem computadores em suas casas. No entanto, no primeiro mês de
implementação desta plataforma o acesso dos alunos foi regular com um retorno
das atividades e ao longo dos meses de junho e julho essa regularidade
diminuiu.
Aqui vale nos determos para discutir
rapidamente sobre a imposição do isolamento social não é a causa da
desigualdade social e da impossibilidade de acesso a rede, pois como já mencionado,
a Educação já encontrava dificuldades advindas da falta de políticas públicas e
mesmo da desigualdade social inerente a nossa sociedade e segundo Saviani
Retenhamos da concepção
crítico-reprodutivista a importante
lição que nos trouxe ; a escola é determinada socialmente ; a sociedade em que
vivemos, fundada no modo de produção capitalista, é dividida em classes com
interesses opostos; portanto, a escola sofre a determinação do conflito de
interesses que caracteriza sociedade.
(SAVIANI,2009, pág.28).
Não
cabe julgar o alunado tratando-o como culpado pelo não acesso a plataforma
disponibilizada, mas sim enfrentarmos com coragem a mazela da desigualdade
social que foi, na verdade, revelada pela necessidade do isolamento inesperado.
A dificuldade de acesso não se restringe aos
alunos. Muitos professores também relatam que, ou não possuem condições de acesso ( computador ou dados para acesso,
wifi limitado) ou não dominam as ferramentas utilizadas nessas aulas remotas o
que também nos parece relevante e confirma a citação anterior de Pierre Levi
quando fala de “formas de usar a tecnologia imposta”, bem como no aspecto
“Pharmakon” que ao mesmo tempo que possibilita a troca sem limites e
fronteiras, também opera uma exclusão. Nesse sentido a exclusão operada pelas
formas impostas nos remeterá a crítica posta por Saviani a partir da concepção
crítico-reprodutivísta.
A plataforma “Google classroom”
ainda nos coloca outra questão que diz respeito a presença no momento do fazer
a tarefa ou a comunicação assíncrona. O aluno não precisa
necessariamente estar disponível no momento em que o material é postado na
plataforma, ele tem a opção de realizar a tarefa em outro momento o que nos
apresenta um deslocamento do tempo individual
Quando uma pessoa,
uma coletividade, um ato, uma informação se virtualizam, eles se tornam
“não-presentes”, se desterritorializam. Uma espécie de desengate os separa do
espaço físico ou geográfico ordinários e da temporalidade do relógio e do
calendário. É verdade que não são totalmente independente do espaço-tempo de
referência, uma vez que devem sempre se inserir em suportes físicos e se
atualizar aqui ou alhures, agora ou mais tarde.( LEVI,1996, pág.9).
Baseado
na citação de Pierre Levi se pode afirmar que a plataforma utilizada pelo
Estado do Rio de Janeiro, ao mesmo tempo que abre a possibilidade da
“não-presença” também coloca um novo desafio ao estudante do Ensino Médio, qual
seja, organizar seu tempo de estudo que agora não está mais condicionado ao
horário escolar presencial que ele
frequentava no seu dia-a-dia
semanalmente, além da questão espacial, pois ele ( aluno) está na sua
casa e não mais no espaço geográfico escolar.
Adolescentes não estão preparados para uma
experiência que envolve misturar o ambiente de estudo (escola) com o ambiente
privado (casa). Essa desterritorialização forçada tem provocado também
desorientação e desânimo nesse aluno que não consegue administrar essa nova
realidade. Um dos problemas ou queixas entre alunos e professores, a respeito
das meetings, está relacionado a falta de participação do aluno na troca
durante o encontro . Já falamos sobre a dificuldade do aluno em administrar a
questão do espaço -tempo na medida em que esse aluno, mas também o professor,
precisará administrar o tempo da casa somado aos tempos dos outros habitantes
dessa casa. Então se a casa, por exemplo, é constituída de pai mãe e dois
filhos teremos as quatro realidades temporais somadas a uma quinta realidade da
própria casa, Ou seja, considerando aqui que todos passem a estudar e trabalhar
em casa, podemos ter um vislumbre da complexidade dessa circunstância que foi
intempestivamente imposta em função do isolamento social.
Falando especificamente da relação entre aula
presencial e aula remota foi possível observar alguns aspectos importantes que
nos fazem entender a dificuldade de participação efetiva do aluno. Ao longo da experiência durante os encontros na
utilização do Google meet, a falta de uma FLUTUAÇAO DA ATENÇÃO(FA) que
faz parte da aula presencial é uma realidade que torna o ambiente remoto árido.
Essa flutuação, que não existe na aula remota, só pode ser superada se cada
integrante do encontro, de fato, contribuir com sua participação dividindo a
fala durante a sessão, pois, na troca o
que se experimenta é o contato com os diferentes aspectos da voz, ou o que
chamaremos de MODULAÇÃO DA DIGITAL SONORA (MDS) que é individual e absolutamente distinta uma
da outra. Pierre Levi ao se referir ao trabalhador online nos dá fundamento
para nossa reflexão
O
teletrabalhador transforma seu espaço privado em espaço público do seu
domicílio ao espaço do lugar do trabalho (ESTUDO). Os limites não são mais
dados. Os lugares e tempos se misturam. As fronteiras nítidas dão lugar a uma
fractalização das repartições. (LEVI,1996, pág.12).
Para
minimizar a questão da dificuldade no contato entre professor e aluno lançamos mão, então, de um segundo
dispositivo tecnológico que permite ao aluno e professor estejam em um mesmo
horário estabelecendo um contato em tempo real, mas que ainda terá a limitação
do chat. As aulas de Arte e Filosofia começaram a ser ministrada via Youtube. Dia
08 de Abril fizemos a primeira transmissão pelo canal e esse dispositivo apesar
de superar a questão do tempo (horário do encontro) apresentava uma nova
questão que dizia respeito a interação. Nesse dispositivo a dificuldade está na
comunicação entre aluno e professor pois as dúvidas que surgiam ao longo da
exposição só podem ser comunicadas via chat.
A plataforma permite um encontro de comunicação síncrona,
no entanto ainda limitado pelo chat.
Se na plataforma “Google classroom”
há o problema da “não-presença” na plataforma Youtube ainda que a aluno assista
ao professor em tempo real na chamada “live” ele, aluno, ainda está limitado ao
contato via chat. Durante o mês de Abril utilizamos essa canal de comunicação
para as aulas como um suporte para complementar as atividades postadas no “Google
Classroom”.
Então as aulas seguiam a seguinte
metodologia; apresentação do assunto geralmente baseado em texto previamente
selecionado, com espaço para perguntas ao longo da aula (LIVE) via chat. A pós
a aula esse vídeo sempre é postado, juntamente com a tarefa a ser executada
pelo aluno na plataforma “Google Classroom”. Desta forma o aluno teria a
aula comentada justamente com a tarefa a ser executada pelo aluno. Para cada aula o texto e a tarefa acompanham
a postagem. Nesta perspectiva nos ensina Gadotti
Na desordem provocada
pelos “média”, surge o mestre em sua função integradora. Mais do que um
transmissor de cultura, tarefa que a biblioteca de certa forma já exerce e os
novos recursos tecnológicos, bem ou mal, podem realizar, o mestre é um
estimulador e um mediador do estudante. Mais do que um conteúdo, cabe-lhe
ensinar um método, a exemplo de Sócrates.
É o que se pede ao professor e ao mestre de hoje e amanhã como se pedia
aos sucessores de Sócrates; ensinar é a difícil arte de partejar espíritos.
(GADOTTI,1975, pág.114)
Em tempo de pandemia, em que somos
convocados a nos reinventar Gadotti nos recorda a importância da figura do
mestre como integrador e reforçamos a importância da “presença pedagógica”
auxiliada pelas novas tecnologias disponíveis para a implementação do ensino
remoto. O que até aqui podemos perceber é que o ensino remoto envolverá
problematizações que não podem ser desconsiderados. O processo de adaptação por parte tanto de
alunos como de professores a uma realidade nova em que o espaço-tempo precisa
ser ressignificado, ou seja, como já mencionamos acima a divisão clara que
havia entre o tempo de casa e o tempo da escola foi subvertido
nesses quase 5 meses de isolamento social . Outra questão que não pode ser
esquecida, diz respeito ao acesso a rede (internet) e esse aspecto é anterior
ao evento da pandemia, o que revela algo já dito por Saviani, ou seja, que
“a escola sofre a determinação do conflito de interesses que caracteriza a sociedade”.
Então se faz necessário que se lance
um olhar sobre o ensino remoto não esquecendo da complexidade já existente em
nossa estrutura educacional que evidencia um despreparo para absorver,
intempestivamente, essa nova prática.
Essa parece ser uma preocupação que não pode deixar de existir ao
discutirmos os pontos positivos da EAD, do contrário incorremos no erro de
distorcer a realidade idealizando os recursos tecnológicos em demasia e
lembrando Pierre Levi aquilo que poderia ser remédio poderá se transformar em
veneno atendendo a poucos e excluindo a muitos.
Pensando nessas questões uma
terceira alternativa foi utilizada, já que a plataforma Youtube limitava
o aluno ao comentário do chat, foi adotado a utilização do “Google meet”.
Um aplicativo que possibilita o encontro em sala virtual onde professor e aluno
estão reunidos em tempo real estabelecendo uma comunicação Síncrona. O
limite de participação fica em 250 pessoas com larga duração.
O aplicativo ainda permite que os
participantes possam visualizar uns aos outros pela câmera (laptop ou celular),
então além as possibilidades de ver e falar o aluno ainda possui o recurso do
chat, em tempo real o aluno pode interagir com seu professor e com seus colegas
de classe. Outros professores também
podem participar por exemplo, de aulas partilhadas. Então como já dissemos em
outros momentos desse trabalho é inegável que as ferramentas tecnológicas
disponíveis atualmente possibilitam experiências educacionais remotas com
resultados consideráveis. No entanto
como educadores comprometidos com a ampliação do acesso ao conhecimento não
podemos desprezar as consequências de uma adoção abrupta desta modalidade, pois
os desdobramentos desse fenômeno precisam, também, ser contemplados por aqueles
que pensam a Educação.
Quando nos propusemos a falar sobre
o ensino remoto a experiência prática passa
a ser a fonte dessas reflexões a respeito de alternativas tecnológicas. Esta
última alternativa, apesar de possibilitar tanto a visualização do aluno, como
a audição de sua voz em tempo real revelará a fragilidade deste mesmo aluno
diante do já mencionado desafio de administrar os deslocamentos de espaço-tempo
provocados pela circunstância vivida por todos.
Resultado desta condição observa-se no docente
que também passa pela necessidade de administrar o novo espaço-tempo mas com
algo a mais, a emergência de aprender a manusear as novas ferramentas.
Ministrar aulas remotas diante da apresentação de sinais de estafa e cansaço
justamente pela falta de interação com o aluno, uma vez que pelos motivos já
mencionados, esse aluno, apesar da possibilidade de interagir visualmente,
através do chat e do áudio, não o faz ou faz pouco. Então experimentamos uma sensação realmente
contraditória pois se dispomos das ferramentas e buscamos com elas minimizar a
falta da aula presencial, ao mesmo tempo nos vemos limitados, agora, pelo
despreparo do aluno do Ensino Médio, não por incapacidade sua , mas pelo
condicionamento ao qual foi submetido ao longo dos anos anteriores, em que não
exercitou o estudo autônomo , comportamento que agora lhe é cobrado, mas limitou-se a ouvir, decorar e reproduzir.
As ferramentas com as quais hoje
temos contato convidam seus atores a, de fato, promovem uma interação, no
entanto essa desejada interação não se realiza por alguns motivos que
destacamos aqui com o auxílio de Pierre Levi que pensa a cibercultura e o mundo
virtual nos lembrando de suas vantagens e desvantagens. Afinal é nesse meio que,
hoje, estamos caminhando.
Ao utilizarmos três dispositivos ou
ferramentas diferentes Google Classroom, Youtube e Google meet, nesses quase 5
meses de isolamento social tivemos a possibilidade de experimentar situações
excepcionais de promoção de encontros, de trocas de experiências e como diz
Levi
A concepção de uma
ferramenta virtualiza uma combinação de órgãos e de gestos que só aparece,
então, como uma solução especial, local,
momentânea. Ao conceber uma ferramenta, mais que nós concentramos sobre
determinada ação em curso, içamo-nos à escala bem mais elevada de um conjunto
indeterminado de situações. O surgimento da ferramenta não responde a um
estimula particular mas materializa particularmente uma função genérica, cria
um ponto de apoio para a resolução de uma classe de problemas. A ferramenta que
seguramos na mão é uma coisa real, mas essa coisa da acesso a um conjunto
indefinido de usos possíveis (LEVI, 1996, pág.49).
Pierre Levi entende que a ferramenta
amplia as possiblidades e concordamos com ele, no entanto, a ferramenta precisa
ser acionada e no caso das três ferramentas aqui descritas, essa ampliação se
fará realizar na medida em que os agentes envolvidos compartilhem, de fato,
seus conhecimentos. Se por um lado os
dispositivos disponíveis ,a saber, Gloogle Classroom, Youtube e Google meet
abrem possibilidades para o Ensino remoto, por outro observa-se a necessidade
de um amadurecimento por parte do aluno com relação a administração de uma
relação anterior de construção do conhecimento, como já foi mencionada
anteriormente quando se fala sobre o
condicionamento ouvir, decorar e reproduzir. Esse condicionamento
responsável pelo desenvolvimento de passividade não é o desejado em um ambiente
virtual.
A grande contribuição
que os meios podem oferecer ao diálogo e ao progresso educacional não deverá
nos eximir da reflexão sobre a sua ambiguidade. O equilíbrio da tecnologia só
existe quando houver o equilíbrio humano que alimenta a tecnologia. (GADOTTI,1975,
pág.112)
Não
há melhor momento do que este para refletirmos sobre ensino remoto que se
mostrou efetivo no atendimento emergencial, já a algum tempo, apontando
alternativas interessantes para quem não dispõe de tempo para frequentar
presencialmente um curso. No entanto ao
sermos lançados nesse novo universo, muitas questões se apresentam e em
especial, aqui o campo da Educação. Assim não podemos nos eximir de refletir
sobre as consequências possibilidades, vantagens e limites desse universo e as
ferramentas que nos possibilitam transitar por esse caminho. As vezes com
facilidade, as vezes muito assustados pela incerteza, as vezes seguros do que
estamos fazendo, mas sempre atentos com relação a reflexão sobre o que
vivenciamos. Porque uma prática irrefletida não traz benefícios e nem produz
conhecimento.
Não nos passa despercebido o aumento
no número de cursos que oferecem formação para aqueles que querem atender
remotamente evidenciando aquilo que chamamos atenção durante todo o trabalho, a
saber, uma exaltação do ambiente virtual como se esse fosse a salvação para os
problemas educacionais, ao passo que a produção de material no sentido de
entender as implicações, as dificuldades não seguem a mesma proporção de produção. Entende-se que só é possível falar com
propriedade dos aspectos problemáticos, bem como sobre sua possibilidades
positivas, aqueles que efetivamente estão vivenciando essa experiência.
Nesse trabalho procurou-se apresentar, a
partir da experiência, como as alternativas de dispositivos tecnológicos
disponíveis nos propõe reflexões importantes durante o seu uso, pois aqui não
tratamos o ensino remoto como uma hipótese, mas nos esforçamos para entender o
que tem acontecido com uma aplicação intempestiva dessas ferramentas, sobretudo
entre alunos do Ensino Médio, a partir da seguinte pergunta; porque o aluno do
Ensino Médio apresenta dificuldades na
participação das aulas remotas nos diferentes dispositivos?
Uma possível resposta para essa questão passa
por considerar que esse aluno, diante da circunstância do isolamento, precisa
administrar a multiplicidade de tempos em um só espaço o que pode provocar
desinteresse, ansiedade entre outros problemas que afetam seu desempenho. A partir desta possível resposta fez-se uma
analogia entre a presença na sala de aula que envolve uma atenção flutuante
(A.F) necessária e inerente a presença e a presença na aula remota que
necessita daquilo que chamamos de modulação da digital sonora( MDS).
Esses termos referem-se a operacionalidade da aula remota nas condições que
vivenciamos hoje. Essa questão, especificamente, de administração de tempos
diferentes nos interessa pois afeta, não só os alunos como, também os
profissionais da Educação bem como todos as pessoas que hoje necessitam
trabalhar no regime remoto, pois
No ciberespaço, em
troca, cada um é potencialmente emissor e receptor num espaço qualitativamente
diferenciado, não fixo, disposto pelos participantes. Explorável. Aqui não é
principalmente por seu nome, sua posição geográfica ou social que as pessoas se
encontram, mas segundo centro de interesses, numa paisagem comum do sentido ou
do saber ( LEVI, 1996, 77).
A partir da citação de Levi, então,
problematiza-se a condição desse aluno que, agora, tem a exigência da
participação em um ambiente para o qual não foi preparado, já que Pierre Levi
nos aponta um ambiente participativo que é favorecido pelo interesse comum. Como foi apresentado no trabalho o
condicionamento ao qual esse aluno foi submetido não o permite contribuir uma
vez que não o muniu de ferramentas para produção. Sua atitude na aula
presencial, invariavelmente, restringe-se a ouvir, decorar e reproduzir.
Infelizmente o que se constata são
questões que não foram superadas pelo ensino e que parecem ser objetivos
almejados pelas novas diretrizes educacionais, a saber, no desenvolvimento de
competências como autonomia, Senso crítico, resolução de problemas, a
colaboração, autoconhecimento, criatividade, abertura para o novo,
responsabilidade, e a comunicação. Como nos diz Pierre Levi
O ciberespaço
favorece as condições, as coordenações , as sinergias, entre as inteligências
individuais, e sobretudo se um contexto vivo for melhor compartilhado, se os
indivíduos e os grupos puderem se situas mutuamente numa paisagem virtual de
interesses e de competências , e se a diversidade dos módulos cognitivos comuns
ou mutuamente compatíveis aumentar.( LEVI, 1996, 79)
Não há como não reconhecer os
benefícios produzidos pelas ferramentas tecnológicas, o entanto o que
procuramos trazer nesta reflexão são aspectos ligados, justamente, ao uso
destas ferramentas a partir de uma experiência empírica.
No momento em que a educação ensaia
mudanças de abordagem para a promoção, daquilo que se entende como
desenvolvimento de competências para vida é surpreendida pela necessidade da
adoção do ensino remoto em virtude do isolamento social.
Nos encontramos diante de um enorme desafio
que não envolve apenas a utilização de tecnologias para o ensino remoto mas
envolve também o próprio entendimento do que seja Educação e quais são, de
fato, nossos objetivos. Aqui não se pretende esgotar o assunto, muito ao contrário. Nossa
tarefa é despertar o olhar crítico a respeito do uso das ferramentas
tecnológicas e quais os efeitos deste uso entre alunos e professores porque
Se nos limitarmos a
instrumentalizar o professor, a tarefa da Educação fracassará como a própria
tarefa da humanização. Seria deter-se nos meios sem querer alcançar o fim
(GADOTTI:1975, pág.106)
Será
sempre necessário refletirmos sobre nossas práticas para que não incorramos no
erro apontado por Gadotti de apenas instrumentalizar o professor valorizado os
meios em detrimento de um fim; A Educação.
Referências
BRAUDRILLARD,
Jean.
FREIRE,
Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GADOTTI,
Moacyr. Comunicação docente. São Paulo: Edições Loyola, 1975.
LEVI,
Pierre. Cibercultura.
__________.
O que é virtual? São Paulo: Editora 34, 1996.
SAVIANI,
Demerval. Escola e Democracia. Campinas -SP: Autores Associados,2009